quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Os conflitos de geração e a álgebra. Que variável você é? PARTE 1

Os conflitos de geração e a álgebra. Que variável você é?

Este texto é um mosaico construído a partir de fragmentos extraídos do blog Histórias para ler no café e de uma contribuição à disciplina de Comunicação da Unifacs.

Está centrado nas percepções sobre a forma de se comunicar de engenheiros químicos de diferentes faixas etárias, com base em observação e entrevistas com profissionais dessa área.

Dividir as pessoas em faixas etárias, atribuindo-lhes características diferentes conforme sua geração pode ser útil para compreender as relações humanas. Porém, é preciso ter cuidado para não criar rótulos que limitem nossa percepção das nuances que existem em cada pessoa.

Nossa forma de ver o mundo, nossos sonhos, desejos e ambições dependem não só da época em que nascemos, mas também, e quem sabe, principalmente, dos estímulos e das pressões a que fomos submetidos durante toda a nossa vida.

Há alguns aspectos que de fato diferenciam os grupos etários. Porém, não é possível generalizar. Observam-se características mistas de uma e de outra geração, especialmente naqueles indivíduos que nasceram na transição entre duas fases. Além disso, experiências individuais, família, escola, livros que foram lidos (ou não) causam diferenças significativas entre as pessoas de uma mesma geração.

De uma maneira geral, as pessoas hoje ativas no mercado de trabalho, estão divididas em três gerações: Os baby-boomers, a geração “X” e a geração “Y”.

Os denominados “baby-boomers” são aqueles indivíduos que nasceram logo após a Segunda-Guerra mundial, mais precisamente entre 1945-1960 (Wikipedia). Eles têm hoje entre 52 e 67 anos, mas foram jovens nas décadas 1960 e 1970. Uma época de muito medo e repressão. Guerra fria, ditaduras na América Latina, austeridade. Essa geração buscava a estabilidade financeira e a aquisição de bens duráveis, como casa, carro e telefone.

No Brasil, a classe média estudava para fazer concursos. O objetivo maior de um Engenheiro Químico era trabalhar na Petrobrás. Ser estatutário. Ter um emprego estável e para toda a vida. Nada de muitas mudanças. Plano de carreira claro, bem definido e baseado em tempo de experiência.

Eles foram jovens durante os anos de chumbo. Aqueles que tinham mais acesso a informação e recursos financeiros eram os contestadores. Foram à rua contra os militares. Alguns, entraram para a Luta Armada. Outros, criaram o Tropicalismo. Outros ainda, viraram hippies ou fugiram do país. Muitos fumaram maconha e pregaram o amor livre. Sobre eles, se dizia: “Se você se lembra dos anos 60 é porque não estava lá (Super Interessante, 2004)

Havia também o “lado B”. Aqueles que tinham um senso de dever muito forte. Obedientes, chamavam os chefes de “senhor” e não aceitavam receber ordens de mulheres. Aliás, eles viram as mulheres entrarem no mercado de trabalho e sentiram muita dificuldade de aceitar isso.

Os pobres, em geral, muito disciplinados, não se atreviam a confrontar a autoridade. “Engoliam sapos” e suportavam condições de trabalho adversas para defender o “pão de cada dia” e para criar melhores condições para seus filhos. Em geral, tinham pouco estudo, mas exigiam muito de seus filhos. Esses tinham que estudar, ir para a faculdade, para ter uma vida melhor. A frase mais dita por esses pais era: “Eu não tive oportunidade, mas meu filho vai ter”. Eram pais castradores. Palmadas e castigos eram muito normais e faziam parte da dura missão de criar os filhos.

Aqueles que foram bem sucedidos no trabalho, hoje estão em posições de liderança. São diretores, presidente e conselheiros de grandes empresas. Os demais, ou se aposentaram precocemente por invalidez, ou estão contando disciplinadamente os dias para se tornarem pensionistas do INSS. Porém, a maioria deles pode se orgulhar de ter construído algo para deixar aos seus filhos.

É visível que a origem social e o consequente acesso a educação diferenciou significativamente as pessoas dessa geração. Talvez, ainda mais que nas gerações posteriores. Contudo, pobres, ricos ou de classe média, os baby-boomers tem como pontos em comum o pragmatismo e uma certa dose de maniqueísmo (em inglês, visão “Black or White”). Essa característica foi determinante para o conflito gerado com a geração seguinte. A chamada “Geração X” conhecida também como “Geração Coca-Cola” ou “Yuppies”.

Essa turma, em geral, valoriza o título, o currículo, o status. Eles escalaram a pirâmide social, graças ao trabalho dos seus pais e aos seus próprios esforços. Diz-se deles que são resistentes a inovação e a tecnologia (Jornal da Globo, 2010). Porém, isso é muito relativo. Como são curiosos e em geral, estudiosos, são capazes sim de se adaptar e adotar as novidades. Quando jovens, questionaram muito a geração anterior. Formaram novos valores. Contestaram o certo e errado. Criaram a “gray zone” em contraponto à visão quadrada dos seus pais e bagunçaram as estruturas da sociedade e da família. Casaram, divorciaram e casaram novamente.

A geração “X” adolescente, viu a abertura política, votou para Presidente, conheceu a AIDS, viveu a crise do comunismo, a morte da ideologia e a queda do muro de Berlim. Passou muito aperto financeiro. Foi assolada pela inflação e trocou de moeda ao menos três vezes. Isso fez ruir a visão maniqueísta dos seus pais. O “sim, sim / não, não” deu lugar ao “depende”... “ou não”. A ética, os valores morais e religiosos passaram por uma forte reciclagem.  

Os “Yuppies” criaram o conceito do “workaholic” – viciado em trabalho. Dedicam-se muito a profissão e valorizam o “ter” sobre o “ser”. Fazem reserva, investimento, aquisições. Ainda carregam o fantasma da “crise” e o medo de perder suas conquistas. Símbolos de poder como canetas Montblanc, carros esportivos e equipamentos eletrônicos de última geração, mesmo que não saibam muito bem como utilizar, não podem faltar na bagagem dessa turma.
Essa geração nasceu entre 1960-1980. Hoje, na faixa entre 30-50 anos estão chegando ou saindo do auge das suas carreiras. Aliás, é uma geração orientada para a carreira. Adiaram casamentos, planos de ter filhos ou sacrificaram relacionamentos em prol do trabalho. Claro que há exceções,  como sempre. Falamos aqui de um padrão predominante. Conheço "X's" muito bem casados!

O "X" médio busca incessantemente enriquecer o currículo e o bolso. A essa altura da vida, a maior parte já está no segundo ou terceiro relacionamento. Muitas vezes também na segunda graduação ou pós. Alguns, nem se casaram. Abriram mão do lazer, dos amigos e dos amores, se o trabalho assim exigiu.

Estudam muito, são curiosos e inquietos. Tem desejo de alcançar cargos elevados, mas querem consistência. Seu maior conflito com a geração seguinte é a pressa e a superficialidade dessa última, contra o desejo de consolidação da primeira.

Está sendo sucedida rapidamente pela geração “Y”. Impaciência, velocidade, e uma boa dose de atrevimento são a tônica dessa nova era. Para ilustrar a diferença entre esses dois grupos etários, reproduz-se a seguir uma conversa real entre duas mulheres, representantes típicas das gerações “X” e “Y”:

Cenário: Intervalo entre duas aulas de uma Universidade Privada em Salvador. 

“X” tem graduação e mestrado e está cursando o MBA. “Y”, pensa em começar uma segunda graduação, mas decidiu ingressar primeiro no mesmo MBA de “X”.

Segue o diálogo:
“Y”: Gostaria de pegar uns conselhos com você, que tem mais experiência que eu.
“X”: Ok. Podemos marcar um café um dia desses e conversar com calma.

“Y”: Não dá. É urgente. Pode ser agora?

“X”: Está bem. Vamos ali para aquele canto, assim, ninguém fica prestando atenção na conversa. 

Após encontrarem um local mais silencioso:

“X”: Então, o que há de tão urgente?

“Y”: Estou aflita. Já estou há dois anos como Engenheira na empresa em que trabalho e ainda não fui promovida a Coordenadora. Acho que devo estar fazendo alguma coisa errada.

“X”: Há quanto tempo está formada?

“Y”: Três anos, amiga!!! Achei que entrando no MBA as coisas iam acelerar, mas até agora nada.

“X” rindo,  abraça a amiga e diz: - Minha querida, você tem 3 anos de formada e só está há dois anos como engenheira!! Calma, criatura! Para se tornar uma líder, é preciso um pouco mais de maturidade. Você precisa se consolidar! Já enfrentou uma crise em seu trabalho? Já teve que tomar decisões difíceis?

“Y”: Não. Ainda não. Mas, já substituí minha chefe duas vezes nas férias dela e me entendo bem com a equipe. A mulher é uma incompetente. Ninguém gosta dela, e a gerente que é nossa chefe gosta de mim. Ela disse que vou chegar lá, mas acho que está demorando muito. Dois anos já é muito tempo! Já sei tudo sobre o trabalho. Sei que estou pronta agora. Tenho medo que o tempo passe e eu perca a oportunidade.

“X” tentou aconselhá-la a ter calma e não sabemos se para encerrar a conversa ou porque estava convencida a esperar, “Y” agradeceu os conselhos e ambas foram de volta para a sala de aula.

Nos meses seguintes, “Y” continuou insistindo com seus objetivos e em menos de um ano se tornou coordenadora, como queria. Agora, espera que as demais oportunidades não demorem tanto. (!)

Essa é uma característica típica da geração “Y”. Seu tempo é agora. Experiência, tempo na função, lastro, são palavras que não fazem sentido para eles. Quando aprendem uma habilidade, acham que já estão prontos a mudar para outra. Usualmente não se prendem muito a um tema ou trabalho. Não “vestem a camisa” da empresa. São bastante individualistas e tem pressa. Muita pressa. Não aceitam “não” como resposta e são bastante corajosos. Dizem abertamente ao seu líder ou a alguém de cargo superior o que querem. Mesmo que seja a sua vaga!

O desafio atual da gestão dos recursos humanos é equilibrar os três diferentes “midsets” (modos de pensar) que hoje dominam o mercado de trabalho. Como o baby-boomer pode compreender a necessidade de reconhecimento individual que o “X” almeja? Como “X” pode aceitar que “Y” deseje seu cargo e que o solicite diretamente ao seu chefe, o baby-boomer? E este, como se acostumar com tanta tralha tecnológica que chega todos os dias. Ele que levou anos para se acostumar com a chegada do computador, agora vai ter que mudar de novo de sistema operacional. E do PC para o laptop. E deste para o netbook, que agora ultrapassado, dá lugar ao I-Pad!

Como harmonizar esses quereres, fazeres e poderes?
Como criar um ambiente de trabalho psicologicamente saudável com tantos estímulos tecnológicos?

E o que a Higiene Ocupacional tem a ver com isso?

Convido vocês a refletir sobre isso.
Continuaremos a reflexão na parte II.