Burnout
A primeira vez que ouvi a palavra achei que se tratava do
sobrenome de algum teórico. Até porque, a pessoa que a mencionou usou um
sotaque francês, dizendo algo do tipo: "Burnô"...
Como a princípio, não sabia do que se tratava, fiz o que sempre se
deve fazer: Perguntei. Primeiro a pessoas, depois ao Google, depois a artigos
na internet. Ainda pretendo me aprofundar mais no tema. Porém, compartilho aqui
o que já pude compreender até agora. Abro a discussão para especialistas e
curiosos. Fiquem à vontade para comentar. Caso algum leitor tenha passado
pelo distúrbio ou conheça alguém nessa situação, gostaríamos muito que
compartilhassem suas experiências aqui no blog.
Anexei alguns links, dentre eles um artigo da Wikipedia e outro do
Dr Drauzio Varella. Não deixe também de
consultar a literatura especializada, se quiser conhecer mais sobre o tema. Há um link do Goggle scholar com várias sugestões de leitura. Conto também com os leitores especialistas para dividirem conosco seu conhecimento.
Bom, vamos então ao que aprendi sobre o assunto:
Primeiramente, a pronúncia correta é "burn-AUT".
A "Síndrome de burnout" foi descrita na década de 70 do
século passado, por um psicanalista que se autodiagnosticou com a doença. "Burn
out" é uma expressão em inglês que quer dizer "queimar
completamente". É algo como consumir-se em chamas. No caso da doença
ocupacional, pode ser definida como: "Exaurir-se mental e fisicamente por
trabalhar demais."
Curiosamente, o mal pode ser precedido de uma fase de intensa
produtividade, fruto de um comportamento compulsivo frente ao trabalho, ou ao
estudo.
Acomete principalmente pessoas cujo trabalho envolve interações
interpessoais intensas e contínuas: Professores e enfermeiros estão no topo da
lista. Gerentes, supervisores, executivos em geral, engrossam a fila de
doentes. A síndrome pode ocorrer também com estudantes, especialmente no final
do ensino médio e na fase dos famigerados “TCCs”, ao término da graduação.
Fiquei curiosa, porque nenhum dos artigos que li se refere a
outras classes de trabalhadores. E quanto aos vigias que emendam um turno no
outro, para ganhar um dinheirinho extra? E as domésticas, que cuidam de várias
casas e ao fim da semana têm que dar conta da sua própria faxina?
Será que essas classes são imunes ao Burnout, ou simplesmente
ainda não foram estudadas?
Por outro lado, a síndrome já foi descrita em mulheres que têm
dupla jornada – em geral, trabalhadoras que têm filhos pequenos, pouca ajuda no
manejo do Lar e muita responsabilidade no trabalho.
Nessa categoria, podemos incluir como exemplo, uma gerente de
marketing que tem uma filha de dois anos, uma babá e uma empregada, mas sofre
com as cobranças profissionais e de culpa por passar tão pouco tempo com a
filha. Porém, podemos considerar também a babá e a empregada dessa gerente que
têm que dar conta dessa casa e das suas próprias.
Claro que hoje em dia todo mundo anda sobrecarregado. Sempre há
mais tarefas que nossa capacidade de entregá-las no prazo. Mas, nem por isso
toda a população tem a tal síndrome.
Digamos que a sobrecarga de trabalho seja o "agente". O
estímulo que desencadeará ou não um efeito indesejável. A reação das pessoas
frente a esse estímulo será o efeito. Algumas pessoas tem a propensão natural a
serem compulsivos em tudo o que fazem. Esses indivíduos poderão ter maior
probabilidade de desenvolver a doença.
Conforme descrito nos artigos, a síndrome pode ser bastante
perniciosa. Ela começa como algo positivo. É aquele funcionário padrão, que
sempre trabalha até mais tarde, nos fins de semana, nas férias e feriados. É um
exemplo de competência. Parece ter uma energia inesgotável. É elogiado pelos
líderes e colegas. É comprometido. Dá conta de milhares de coisas ao mesmo
tempo. Não perde prazos e centraliza sua motivação e alegria de viver no
sucesso obtido em seu trabalho.
Quem não quer ter alguém assim na equipe? Até o limite em que toda
essa energia canalizada para o trabalho não rouba o tempo para o lazer, para a
família e para o aperfeiçoamento pessoal, tudo bem.
Agora... Continue observando o indivíduo... Ele começa a desprezar
a família. Coloca o trabalho e o sucesso profissional num altar e o venera todo
o tempo. Tem dificuldades de lidar com frustrações e começa a se sentir
incompetente se não é reconhecido seguidamente por seus esforços. Com o passar
do tempo, a energia parece se esgotar. Ele não dá mais conta dos prazos,
começa a faltar ou se atrasar e não tem mais prazer em nada.....Têm insônia, problemas digestivos, depressão e perde o interesse pelo parceiro, pelo sexo, pelo lazer. Pode até se tornar alcóolatra ou usuário de drogas em busca de uma fuga. É o Burnout!
"Nem aquilo a que me entrego... já me traz contentamento...."
(Cecília Meireles - Transformada em canção por Raimundo Fagner).
Qual é o ponto em que o trabalhador deve começar a diferenciar
compromisso e competência de compulsão? Quando é que o trabalho vira um vício e
começa a nos matar aos poucos?
E quando a compulsão se dá de maneira involuntária? Isto é, quando
não se é compulsivo, mas é necessário ter duplas ou triplas jornadas para pagar
o aluguel ou manter as crianças na escola? – Pensando no vigia, na doméstica e
na babá...
Como medir esse "agente duplo"? Como monitorar? Sim.
Chamo de agente duplo porque em muitas empresas os sintomas de compulsividade
são lidos como aspectos positivos. É difícil perceber o caminho sutil de autodestruição que espera o compulsivo.
Seguem testemunhos anônimos que coletei aqui e ali, nas copas, nos
cafés e nos Happy Hours da vida...:
Frases ditas por líderes:
- Vejo que você coloca seu trabalho acima da sua vida pessoal e
por isso, tem toda essa capacidade de entrega. Confesso que isso contou a seu
favor na hora de escolher quem seria promovido.
- Se você acha que das 8 às 5 vai dar conta de se tornar um bom
engenheiro, esqueça! Pode tratando de se dedicar mais ao seu trabalho.
- O que você faz de meia-noite às seis?
- Eu esperava um pouco mais de comprometimento de você. – Dito a
uma pessoa que se recusara a cancelar suas férias pela segunda vez, a pedido da
empresa.
Aqui faço uma pausa para a reflexão...
Atenção líderes! Pensem bem no que vocês dizem. Uma simples frase
como as listadas acima, podem mudar a vida de uma pessoa. Assumam sua
responsabilidade no desenvolvimento das suas equipes não apenas como funcionários, mas acima de tudo como seres humanos! “Não sois máquinas. Sois Homens!” (Charles Chaplin)
Voltando ao Burnout, entendi que, assim como nas demais doenças
ocupacionais, não é a simples exposição ao agente de risco que leva à doença. Há
que se avaliar a predisposição do indivíduo. Assim como nos demais agravos, é possível sim prevenir-se!
Sempre há uma escolha. Pode-se procurar um médico, mudar as
rotinas de trabalho ou simplesmente mudar de emprego. Ou até de profissão.
Pode-se encontrar um hobbie, praticar esportes ou meditação.
O que não pode é se deixar engolir pelo torvelinho de estímulos
que são oferecidos todos os dias nem se deixar iludir pelo sucesso e pelo
reconhecimento profissional doentio.
Passamos as melhores horas, dos dias mais produtivos, dos melhores anos das nossas vidas no ambiente de trabalho. Se esse lugar não for saudável, toda a sociedade adoecerá.
Este foi nosso primeiro texto. Conto com a contribuição de todos
para enriquecer nosso blog.
Comente. Compartilhe sua experiência e divida conosco mais
informações sobre as doenças ocupacionais e as formas de preveni-las.
Todos os temas relacionados a Saúde Ocupacional são bem vindos.
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