sábado, 6 de abril de 2013

O Trabalho, a Física e os Jesuítas

A relação homem-trabalho sempre me intrigou.

Desde pequena, ouço minha mãe dizer que trabalho é sacrifício. É dor. É longe. É difícil. É mal pago...

Meu pai não reclamava de nada. Parecia gostar de trabalhar. O trabalho para ele era um meio de interagir com comunidade. Aliás, esse foi o propósito de toda a sua vida. Servir a sua comunidade. Ele nunca trabalhou para si mesmo. Tudo o que fez, foi pelos outros. Remuneração para ele nunca teve muita relevância. O mais importante é que outros tivessem a mesma oportunidade que ele. E assim ele viveu e morreu. Construindo um legado para os outros.

Com esse background iniciei minha vida profissional. Gostando de trabalhar, querendo que meu trabalho fosse útil à sociedade, mas também trabalhando duro, longe de casa...difícil...cansativo...sacrificante.

Isso começou a mudar quando conheci uma Higienista, em uma Indústria Química em que trabalhei. Ela me disse que o trabalho deveria ser adequado ao homem. Que deveria haver conforto no ambiente de trabalho. Que deveria ser prazeroso trabalhar e que Qualidade de vida é importante para a produtividade.

Ela arrumou meu posto de trabalho junto comigo e me livrou de dores horríveis que sentia no pescoço. Minha tela estava mal ajustada e eu não sabia. Na orientação ela me ensinou como corrigir a ergonomia da minha sala e me disse que era meu direito ter o mínimo de conforto para trabalhar.

Eu fiquei me perguntando porque as empresas se preocupariam com isso. Que diferença faria para o empresário se eu tinha ou não dor no pescoço, desde que eu entregasse os relatórios bem feitos e nos prazos corretos?

Lembrei do cursinho pré-vestibular e de como o professor de física me fez nunca mais esquecer da equação do trabalho: T = Fxd (Trabalho é foda!!!).

Fomos educados por jesuítas, e por isso, aprendemos desde a nossa colonização, que devemos sofrer para ganhar o sustento. Foi assim desde Adão e Eva:  "Você ganhará o pão com o suor do seu rosto".

Deus ajuda a quem cedo madruga. Como acha que vai se desenvolver trabalhando só de 8 às 5? O que você faz de meia-noite às 6Já vai, tão cedo?  Vai tirar férias... de novoE lá se vão as piadinhas corporativas infames....

O trabalho demanda esforço sim. Como diz a física, Trabalho é força x deslocamento. O objetivo maior do trabalho é avançar de um ponto a outro. Logo, de nada adianta fazer muita força e não sair do lugar.

Aliás, o trabalho mais efetivo é aquele que com menor força desloca mais... Daí fico me perguntando se trabalhar 14, 16 horas por dia resulta mesmo em deslocamento.... Será esse um trabalho realmente efetivo?

Ou será que distribuindo melhor as tarefas não conseguimos mais resultado (deslocamento) com menos força?

Tomei gosto pelo assunto e decidi estudá-lo melhor. Nesse tempo, tenho aprendido que o ambiente de trabalho precisa ser saudável. Que as pessoas têm o direito de serem bem tratadas. Que não é aceitável deixar ninguém passar calor, ou frio, ou ficar exposto a ruído ou a risco de acidentes. Que extensão de jornada (mais força) não garante mais resultado (deslocamento). Ao contrário, além de reduzir os resultados ao longo do tempo, mina a saúde das pessoas e pode gerar acidentes.

Podemos aprender muito com a Física e com os Jesuítas. Podemos aprender mais ainda com o bom senso.
Por exemplo: O que faz as pessoas aceitarem uma condição de trabalho como essa ilustrada na foto abaixo?



Será mesmo falta de percepção de risco, como sempre aparece nas análises de acidentes?

Ou será que a mãe deles também lhes ensinou que deveriam aceitar as condições impostas pelo patrão, porque afinal era ele quem pagava seu salário?

Quando trabalhadores como esses são entrevistados, em geral eles respondem que "é assim mesmo". Que estão acostumados. Que também acham perigoso, mas que não tem outro jeito de fazer...

É aí que entram os profissionais de Segurança do Trabalho, que a exemplo da Higienista que mencionei no começo do post, precisam ter a sensibilidade de, ao invés de simplesmente punir o desvio, orientar o trabalhador.

Ainda há muito o que fazer. O Brasil está crescendo e estamos numa fase de emprego pleno. As práticas de Segurança das empresas melhoraram muito nos últimos anos e isso é muito bom.

Além disso,  devido a escassez, a mão de obra especializada está ainda mais valorizada. Com isso, se conseguirmos educar os trabalhadores, eles serão agentes de transformação na sociedade. E, sem gerar conflitos, naturalmente não aceitarão mais condições como a mostrada na foto.

E vocêComo tem se relacionado com seu trabalho? Como tem influenciado para melhorar o ambiente em que está inserido?

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