domingo, 12 de fevereiro de 2012

Burnout


Burnout

A primeira vez que ouvi a palavra achei que se tratava do sobrenome de algum teórico. Até porque, a pessoa que a mencionou usou um sotaque francês, dizendo algo do tipo:  "Burnô"...

Como a princípio, não sabia do que se tratava, fiz o que sempre se deve fazer: Perguntei. Primeiro a pessoas, depois ao Google, depois a artigos na internet. Ainda pretendo me aprofundar mais no tema. Porém, compartilho aqui o que já pude compreender até agora. Abro a discussão para especialistas e curiosos. Fiquem à vontade para comentar. Caso algum leitor tenha passado pelo distúrbio ou conheça alguém nessa situação, gostaríamos muito que compartilhassem suas experiências aqui no blog.

Anexei alguns links, dentre eles um artigo da Wikipedia e outro do Dr Drauzio Varella. Não deixe também de consultar a literatura especializada, se quiser conhecer mais sobre o tema. Há um link do Goggle scholar com várias sugestões de leitura. Conto também com os leitores especialistas para dividirem conosco seu conhecimento. 

Bom, vamos então ao que aprendi sobre o assunto:

Primeiramente, a pronúncia correta é "burn-AUT". 

A "Síndrome de burnout" foi descrita na década de 70 do século passado, por um psicanalista que se autodiagnosticou com a doença. "Burn out" é uma expressão em inglês que quer dizer "queimar completamente". É algo como consumir-se em chamas. No caso da doença ocupacional, pode ser definida como: "Exaurir-se mental e fisicamente por trabalhar demais[1]."

Curiosamente, o mal pode ser precedido de uma fase de intensa produtividade, fruto de um comportamento compulsivo frente ao trabalho, ou ao estudo.  

Acomete principalmente pessoas cujo trabalho envolve interações interpessoais intensas e contínuas: Professores e enfermeiros estão no topo da lista. Gerentes, supervisores, executivos em geral, engrossam a fila de doentes. A síndrome pode ocorrer também com estudantes, especialmente no final do ensino médio e na fase dos famigerados “TCCs”, ao término da graduação.

Fiquei curiosa, porque nenhum dos artigos que li se refere a outras classes de trabalhadores. E quanto aos vigias que emendam um turno no outro, para ganhar um dinheirinho extra? E as domésticas, que cuidam de várias casas e ao fim da semana têm que dar conta da sua própria faxina?

Será que essas classes são imunes ao Burnout, ou simplesmente ainda não foram estudadas?

Por outro lado, a síndrome já foi descrita em mulheres que têm dupla jornada – em geral, trabalhadoras que têm filhos pequenos, pouca ajuda no manejo do Lar e muita responsabilidade no trabalho.

Nessa categoria, podemos incluir como exemplo, uma gerente de marketing que tem uma filha de dois anos, uma babá e uma empregada, mas sofre com as cobranças profissionais e de culpa por passar tão pouco tempo com a filha. Porém, podemos considerar também a babá e a empregada dessa gerente que têm que dar conta dessa casa e das suas próprias.

Claro que hoje em dia todo mundo anda sobrecarregado. Sempre há mais tarefas que nossa capacidade de entregá-las no prazo. Mas, nem por isso toda a população tem a tal síndrome.

Digamos que a sobrecarga de trabalho seja o "agente". O estímulo que desencadeará ou não um efeito indesejável. A reação das pessoas frente a esse estímulo será o efeito. Algumas pessoas tem a propensão natural a serem compulsivos em tudo o que fazem. Esses indivíduos poderão ter maior probabilidade de desenvolver a doença.

Conforme descrito nos artigos, a síndrome pode ser bastante perniciosa. Ela começa como algo positivo. É aquele funcionário padrão, que sempre trabalha até mais tarde, nos fins de semana, nas férias e feriados. É um exemplo de competência. Parece ter uma energia inesgotável. É elogiado pelos líderes e colegas. É comprometido. Dá conta de milhares de coisas ao mesmo tempo. Não perde prazos e centraliza sua motivação e alegria de viver no sucesso obtido em seu trabalho.

Quem não quer ter alguém assim na equipe? Até o limite em que toda essa energia canalizada para o trabalho não rouba o tempo para o lazer, para a família e para o aperfeiçoamento pessoal, tudo bem.

Agora... Continue observando o indivíduo... Ele começa a desprezar a família. Coloca o trabalho e o sucesso profissional num altar e o venera todo o tempo. Tem dificuldades de lidar com frustrações e começa a se sentir incompetente se não é reconhecido seguidamente por seus esforços. Com o passar do tempo, a  energia parece se esgotar. Ele não dá mais conta dos prazos, começa a faltar ou se atrasar e não tem mais prazer em nada.....Têm insônia, problemas digestivos, depressão e perde o interesse pelo parceiro, pelo sexo, pelo lazer. Pode até se tornar alcóolatra ou usuário de drogas em busca de uma fuga. É o Burnout!

"Nem aquilo a que me entrego... já me traz contentamento...." (Cecília Meireles - Transformada em canção por Raimundo Fagner).

Qual é o ponto em que o trabalhador deve começar a diferenciar compromisso e competência de compulsão? Quando é que o trabalho vira um vício e começa a nos matar aos poucos?

E quando a compulsão se dá de maneira involuntária? Isto é, quando não se é compulsivo, mas é necessário ter duplas ou triplas jornadas para pagar o aluguel ou manter as crianças na escola? – Pensando no vigia, na doméstica e na babá...

Como medir esse "agente duplo"? Como monitorar? Sim. Chamo de agente duplo porque em muitas empresas os sintomas de compulsividade são lidos como aspectos positivos. É difícil perceber o caminho sutil de autodestruição que espera o compulsivo.

Seguem testemunhos anônimos que coletei aqui e ali, nas copas, nos cafés e nos Happy Hours da vida...: 

Frases ditas por líderes:
- Vejo que você coloca seu trabalho acima da sua vida pessoal e por isso, tem toda essa capacidade de entrega. Confesso que isso contou a seu favor na hora de escolher quem seria promovido.
- Se você acha que das 8 às 5 vai dar conta de se tornar um bom engenheiro, esqueça! Pode tratando de se dedicar mais ao seu trabalho.
- O que você faz de meia-noite às seis?
- Eu esperava um pouco mais de comprometimento de você. – Dito a uma pessoa que se recusara a cancelar suas férias pela segunda vez, a pedido da empresa.

Aqui faço uma pausa para a reflexão...

Atenção líderes! Pensem bem no que vocês dizem. Uma simples frase como as listadas acima, podem mudar a vida de uma pessoa. Assumam sua responsabilidade no desenvolvimento das suas equipes não apenas como funcionários, mas acima de tudo como seres humanos! “Não sois máquinas. Sois Homens!” (Charles Chaplin)

Voltando ao Burnout, entendi que, assim como nas demais doenças ocupacionais, não é a simples exposição ao agente de risco que leva à doença. Há que se avaliar a predisposição do indivíduo. Assim como nos demais agravos, é possível sim prevenir-se!

Sempre há uma escolha. Pode-se procurar um médico, mudar as rotinas de trabalho ou simplesmente mudar de emprego. Ou até de profissão. Pode-se encontrar um hobbie, praticar esportes ou meditação.

O que não pode é se deixar engolir pelo torvelinho de estímulos que são oferecidos todos os dias nem se deixar iludir pelo sucesso e pelo reconhecimento profissional doentio.

Passamos as melhores horas, dos dias mais produtivos, dos melhores anos das nossas vidas no ambiente de trabalho. Se esse lugar não for saudável, toda a sociedade adoecerá. 

Para saber mais:
Wikipedia

Este foi nosso primeiro texto. Conto com a contribuição de todos para enriquecer nosso blog.

Comente. Compartilhe sua experiência e divida conosco mais informações sobre as doenças ocupacionais e as formas de preveni-las.

Todos os temas relacionados a Saúde Ocupacional são bem vindos. Comentários, sugestões, críticas e correções também.


[1] Tradução adaptada do Oxford Advanced Learner´s Dictionary - 1989

2 comentários:

  1. Muito bom Lucy.
    Vivi algo parecido, cheguei a ficar doente, e ainda ouvi piada do chefe, mas enfim, agora são outros tempos e essa discussão é muito válida.
    O que nós como gestores temos feito pela qualidade de vida dos nossos liderados? Acredito isso, também, ser função do gestor...

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  2. Albert, enho lido inúmeros blogs e artigos sobre o tema e histórias como a sua hoje em dia, infelizmente, estão cada vez mais comuns. As pessoas em geral relatam uma alta dedicação à empresa com um reconhecimento muito abaixo do esperado. Você agiu bem em colocar sua saúde em primeiro lugar e romper com o padrão negativo que estava estabelecido.

    Quanto ao papel do gestor, concordo com você que ele tem uma responsabilidade grande. Contudo, os líderes também estão nas estatísticas da doença. Para cuidar do outro, precisamos primeiro cuidar de nós mesmos.
    Cuide-se bem!

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